Pedro Hayashi
Engenheiro agrônomo e pesquisador

A planta de batata sofre com diversas pragas causadas por diferentes organismos, fungos, vírus e bactérias. Todo bataticultor está familiarizado com estas adversidades, sabe que o sucesso de uma lavoura começa com uma batata semente com boa sanidade. A batata semente deve apresentar níveis de tolerância dentro dos limites estabelecidos pelo MAPA. Em se tratando de viroses, que é o tema que vamos abordar, são exigidos dentro do sistema de certificação da batata semente testes de laboratório para quatro vírus, o PLRV (Potato Leafroll Virus), PVX (Potato Virus X) PVS (Potato Virus S) e PVY (Potato Virus Y).

Para cada classe de batata semente é estabelecido um índice máximo para o total de viroses detectada nos testes laboratoriais. Estes quatro vírus são transmitidos principalmente por insetos vetores e/ou por contato. No entanto, o mais importante é a transmissão por insetos – no caso destes vírus acima mencionado o principal vetor são pulgões de diferentes espécies. Há também outras viroses não são inclusas como obrigatórias de testes de laboratório que podem ser transmitidas por fungos, por outros insetos que não os pulgões e até por nematoides.

Os vírus podem causar danos com diferentes níveis de perda de produção e qualidade. Vai depender da variedade, das condições climáticas em que estas plantas serão
cultivadas. A variedade Achat, que foi muito plantada na região, foi extinta do mercado por ser altamente susceptível a uma nova raça de PVY que surgiu e provocava danos da ordem de 80% ou mais. Os sintomas deste vírus ficaram conhecidos no meio batateiro por “pinheirinho”, pela mudança da arquitetura da planta infectada. Esta perda de produtividade a tirou do mercado em poucos anos.

Por outro lado, a variedade Atlantic é tão susceptível a este vírus quanto a variedade Achat, porém, a perda de produtividade não é tão acentuada, permitindo que seja cultivada até os dias atuais.

A importância das viroses pode mudar, o PLRV – ou enrolamento como também é conhecido – foi a virose mais importante décadas atrás. Hoje a virose de maior incidência é o PVY, esta ocorrência não se refere somente ao Brasil, mas no mundo todo.

O dinamismo da natureza também é capaz de mudar a população de insetos e algumas doenças que não tinham importância passa a ser limitante na produção agrícola. Um exemplo que vivemos é a incidência da mosca branca (Bemisia sp) que causou grande dano à cultura de feijão em várias regiões do país, por transmitir viroses e impedir a produção.

Com a cultura da batata não foi diferente, recentemente foi diagnosticado uma virose que estava afetando a produção, que era já conhecida na cultura do tomate e outras solanáceas. A virose transmitida pela mosca branca é o TOCV (Tomato chlorosis vírus), um Crinivirus que foi identificado em vários campos, tanto na nossa região como em outros estados. Como é um vírus que não tem a obrigatoriedade de fazer testes de laboratório dentro do processo de certificação, este pode estar ocorrendo e sendo
disseminado pela batata semente.

Seu diagnóstico não é simples, tanto em laboratório como visual. No laboratório, ele é identificado através de teste de PCR, diferente das viroses enquadradas na certificação que são detectados por teste ELISA. Os sintomas em campo se confundem com deficiência mineral principalmente de magnésio ou mesmo senescência natural da planta. Se um tubérculo semente
estiver contaminado no cultivo anterior (infecção secundária) não vai mostrar nenhum sintoma antes do enchimento dos tubérculos. Desta fase em diante a planta começa a exibir clorose internerval, começando nas folhas mais velhas subindo gradativamente para a parte superior da planta.

Outro sintoma que aparece são as bordas encanoadas das folhas mais novas, seguido por queima
do ápice das folhas. Quando as bordas das folhas se curvam para
cima lembra os sintomas do PLRV (enrolamento) por vezes adquirindo uma cor arroxeada pela presença de antocianinas. Estes sintomas não são coincidências, tanto o enrolamento quanto o TOCV são vírus que estão no sistema vascular da planta, interferindo no transporte de elaborados para os órgãos de reserva (tubérculos, frutos). Este comportamento pode ser observado também no tomateiro quando a planta está com frutos em desenvolvimento, neste momento os sintomas começam a aparecer e vão se tornando cada vez mais evidentes.

No momento ainda falta muito conhecimento sobre esta virose para fazer uma recomendação para prevenir a doença e prejuízos. No entanto, o controle do inseto vetor, no caso a mosca branca, deve ser feito principalmente em campos de batata semente. Se possível evitar o plantio da batata a áreas próximas de leguminosas como soja e feijão que normalmente aumentam a população de mosca branca. Em caso de infestação de mosca branca em campos de batata semente, fazer teste específico para esta virose.

Em campos de batata consumo, caso haja senescência prematura das plantas, é recomendável que se faça também teste de laboratório para confirmar ou não a presença do TOCV.