À frente do Sindicato dos Empregados Rurais de Vargem Grande do Sul, Gilson Donizete do Lago, tem tido um papel importante na discussão de melhores condições de trabalho na cadeia produtiva de laranja nacional e também junto ao mercado consumidor alemão. Integrante da diretoria da Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo

Representatividade: Gilson Donizete do Lago tem participado de conferências na Alemanha para discutir melhorias aos trabalhadores rurais da cadeia produtiva de laranja (Arquivo Pessoal)
À frente do Sindicato dos Empregados Rurais de Vargem Grande do Sul, Gilson Donizete do Lago, tem tido um papel importante na discussão de melhores condições de trabalho na cadeia produtiva de laranja nacional e também junto ao mercado consumidor alemão. Integrante da diretoria da Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (Feraesp), o sindicalista vargengrandense participou recentemente de conferências na Alemanha para debater propostas junto com outros sindicatos e empresas ligadas à citricultura, em especial aquelas que compram o suco processado brasileiro.
O Brasil se destaca como o maior produtor mundial de laranja, contribuindo com cerca de 34,0% da produção global, conforme dados do USDA (United States Department of Agriculture) – Departamento de Agricultura dos EUA. A produção nacional concentra-se nos polos citrícolas de São Paulo, Triângulo Mineiro e Sudeste Mineiro. Ao todo, 74,6% da produção nacional está concentrada no território paulista, onde também estão grandes indústrias processadoras de suco.
UNIÃO INTERNACIONAL

União: rede internacional conta com a participação de sindicatos e empresas produtoras e compradoras alemãs do suco brasileiro (Arquivo Pessoal)
Atualmente a Alemanha está entre os principais destinos das exportações brasileiras de suco de laranja. Gilson explica que existem quatro empresas que representam praticamente 80% da distribuição de suco de laranja brasileiro no mercado europeu. “Eles compram esse suco concentrado nosso e distribuem na Alemanha e toda Europa”, afirmou.
De acordo com ele, os trabalhadores dessas empresas também enfrentam dificuldades semelhantes aos brasileiros, como nas áreas da saúde e segurança no trabalho, além da carga horária excessiva e a falta de equipamentos de proteção individual, por exemplo. Diante deste cenário surgiu a ideia de criar uma rede internacional da laranja, unindo sindicatos, empresas produtoras brasileiras e as compradoras alemãs de suco. O objetivo é melhorar as condições de trabalho e, consequentemente, fortalecer toda a cadeia produtiva. “Nesse sentido queremos unir forças para buscar soluções e melhorias para esses trabalhadores da cadeia como um todo”, destacou o sindicalista.
BUSCANDO MELHORIAS

Trabalhos: Gilson participou neste ano de novos encontros na capital alemã Berlim e também em Frankfurt (Arquivo Pessoal)
Com o desenvolvimento deste trabalho em conjunto, em 2020, Gilson foi para a Alemanha apresentar os desafios enfrentados atualmente pelos empregados rurais na cadeia produtiva e apresentar eventuais soluções. “Eles [compradores alemães] não comungam com as dificuldades que os trabalhadores enfrentam, como a má qualidade de trabalho, má alimentação, transporte precário, baixos salários etc. Eles compram nosso produto e não comungam que o trabalhador tenha esse tratamento desumano”, comentou.
Batalhando para mudar este cenário, em 2021, ele e Antônio Donizete Jacob, diretor de Finanças do Sindicato dos Empregados Rurais de Vargem Grande do Sul, receberam uma capacitação especial e passaram a ser monitores desta rede, realizando treinamentos voltados para as áreas de saúde e segurança do trabalho, além de identificar doença ocupacionais que o empregado pode adquirir durante sua jornada. As ações são realizadas junto a empresas brasileiras e alemãs e também aos sindicatos que participam da rede. “O objetivo é trazer melhorias no campo e na indústria, tanto no Brasil, como na Alemanha”, frisou o sindicalista.
ABERTURA JUNTO ÀS EMPRESAS

Visitas: Gilson levou caravana alemã para conhecer fazendas produtoras brasileiras; Grupo Santa Vitória esteve no roteiro (Arquivo Pessoal)
Em outubro deste ano, Gilson participou de novos encontros com sindicatos e empresas do setor na Alemanha. As conferências ocorreram na capital Berlim e em Frankfurt, outra grande e importante cidade alemã. Em conversa com os compradores do suco brasileiro, ele falou sobre os desafios existentes e pediu apoio. “Queremos uma abertura com as empresas brasileiras, onde possamos ter condições de atuar junto aos trabalhadores brasileiros, orientando sobre a necessidade de estarem registrados e terem a segurança da Previdência Social. Nós precisamos que as empresas que compram o suco nos ajudem a ter essa abertura com essas empresas que vendem os sucos concentrados a eles”, relatou. “É uma forma de pressionar essas empresas a dar abertura para que possamos exigir que seja cumprida a legislação. No mínimo, o básico, como o registro em carteira”, completou o diretor da Feraesp.
Segundo o sindicalista, o Brasil tem aproximadamente 200 mil pessoas trabalhando como colhedores de laranja. “Mais de 20% deles não têm registro em carteira, não têm água potável, não têm transporte decente e não têm contribuição com o INSS, ou seja, é uma insegurança total”, declarou.
PROPOSTAS
Prosseguindo com as ações, sindicatos, empresas produtoras de suco e compradores alemães se reuniram recente em Campinas (SP), onde voltaram a discutir melhorias para a cadeia. O encontro teve a participação de auditores da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), órgão do Ministério do Trabalho e Emprego.
Na ocasião foi definida a elaboração de um plano de melhorias que será adotado para os trabalhadores, visando garantir transporte de qualidade e também diminuir a informalidade. E uma das alternativas destacadas é a criação de condomínios rurais, semelhantes aos que já existem em Vargem Grande do Sul – para os trabalhadores da safra da batata – e em São José do Rio Pardo – destinados àqueles que atuam na colheita da cebola –, os quais tem tido resultados positivos para empregadores e empregados. “Um dos papeis do sindicato é conscientizar os trabalhadores o que estão perdendo ficando na informalidade, como 13º salário, as férias, o Fundo de Garantia, a Previdência Social e outros benefícios importantes”, pontuou Gilson.
TECNOLOGIAS EM DESENVOLVIMENTO
Além dos sindicatos e empresas participantes, a rede internacional de laranja ainda tem parcerias com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, as quais estão desenvolvendo dois protótipos voltados para melhorar as condições de trabalho no campo. Um deles visa tirar o peso da sacola de laranjas do corpo do trabalhador que atua na coleta da fruta. Já o outro projeto é voltado para a pesagem da laranja, garantindo que o funcionário saiba exatamente o valor coletado.
CAFEICULTURA
No início de novembro, Gilson participou do seminário “Melhorando as Condições de Trabalho na Cadeia Produtiva do Café no Brasil”, realizado em Brasília (DF). O evento foi promovido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais (Contar) e contou com a participação do ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, além de dr. Moritz Pieper, primeiro secretário dos Direitos Humanos da Embaixada da Alemanha no Brasil, e Maria Cláudia Falcão, coordenadora do Programa de Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
O seminário reuniu dirigentes sindicais dos estados produtores do café para debaterem temas como a promoção de boas condições de trabalho, o combate ao trabalho análogo à escravidão, além da saúde e segurança no trabalho rural e o fortalecimento das organizações sindicais.
Durante o encontro, Gilson destacou a necessidade de uma ação mais severa para combater o transporte precário de trabalhadores. Entre as ideias está um convênio com a Polícia Rodoviária – estadual ou federal – para fiscalizar os ônibus periodicamente. “Maioria desses acidentes que ocorrem são por conta das condições péssimas dos veículos. Muitos ônibus têm mais de 20 ou até 30 anos. Este tipo de situação não pode ocorrer, pois estamos transportando vidas!”, declarou o sindicalista.
Em relação a informalidade existente ainda na cafeicultura, Gilson destaca como alternativa a criação de condomínios rurais, citando novamente os bons resultados obtidos em Vargem Grande do Sul e São José do Rio Pardo. “Solução tem. Basta querer!”, comentou.
REFLEXOS POSITIVOS

Na Alemanha: Gilson tem apresentando os desafios do setor e discutido melhores condições aos trabalhadores rurais (Arquivo Pessoal)
Ao analisar as ações desenvolvidas junto à rede internacional de laranja, Gilson avalia que todo este trabalho – envolvendo sindicatos e empresas – traz reflexos positivos a todo o mercado brasileiro. “O europeu pode ver que realmente o Brasil respeita a legislação e o trabalhador é tratado com respeito”, observou. “O sindicato está fazendo o papel dele, que é fiscalizar, negociar melhorias junto ao empregador e denunciar eventuais abusos ao Ministério Público e ao Ministério do Trabalho e Emprego. Avançamos bem, mas ainda falta muito para fazer. Estamos na luta, engajados com sindicatos de outros estados e da Alemanha”, concluiu. “Está sendo muito produtivo isso. Estou vendo que vamos avançar e ano que vem teremos melhorias nos setores da laranja e do café”, avaliou o sindicalista.
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