A flor do café guarda certas peculiaridades. Algumas horas depois de florescer, as pétalas murcham e secam – e, no dia seguinte, caem. Isso porque essas flores são hermafroditas, ou seja, possuem gametas masculinos e femininos, e, dessa forma, já abrem polinizadas. Mas, graças à visão de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)

Cafeicultura: polinização assistida é o maior potencial produtivo sustentável a ser desbloqueado no agronegócio brasileiro (Reprodução/Adobe Stock)
A flor do café guarda certas peculiaridades. Algumas horas depois de florescer, as pétalas murcham e secam – e, no dia seguinte, caem. Isso porque essas flores são hermafroditas, ou seja, possuem gametas masculinos e femininos, e, dessa forma, já abrem polinizadas. Mas, graças à visão de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi possível comprovar que, ainda assim, o cultivo do café arábica poderia ser beneficiado com a polinização de abelhas. Dessa forma, ao se alimentarem das flores, os insetos ajudaram a espalhar o pólen.
“Nossa expectativa era encontrar impacto na produtividade. Mas a nossa surpresa foi o ganho na qualidade da bebida e no valor da saca”, afirmou Cristiano Menezes, pesquisador da Embrapa e líder do projeto feito em 20 propriedades em São Paulo e Minas Gerais. Segundo ele, estudos anteriores já demonstravam que a integração traria benefícios, mas faltava verificar na prática.
Gustavo Facanali, produtor e sócio da Facanali Cafés, uma das fazendas de café arábica participantes do trabalho, achava difícil que as abelhas pudessem aumentar a produção. “Eu não esperava que iria bombar do jeito que está bombando. Fiquei abismado!”, contou. Situada em Espírito Santo do Pinhal, a propriedade viu a produtividade saltar de 110 para 128 sacas por hectare depois do experimento, o que significa R$ 27 mil a mais no faturamento por hectare.
MELHORA NA QUALIDADE
Em média, os cafés polinizados aumentaram as notas na avaliação sensorial em 2,4 pontos. Como a pontuação vai de 0 a 100, em alguns casos isso representa sair de um café regular para um bom ou especial. Segundo Menezes, a polinização está entre os fatores que podem influenciar na qualidade do café, assim como solo, manejo e irrigação. Um exemplo é o impacto no teor de cafeína (já menor na espécie arábica), uma das substâncias responsáveis pelo amargor da bebida: o teor caiu 2,78% e ajudou na obtenção de notas mais altas na avaliação sensorial.
PROJEÇÃO
Quanto à produtividade, o aumento médio foi de 16,5%. Os pesquisadores fizeram o exercício hipotético de aplicar esses resultados projetando o uso da técnica de polinização com abelhas em todo o café arábica do País – 1,5 milhão de hectares, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Isso geraria um acréscimo de R$ 22,4 bilhões na receita anual dos produtores.
Para o próximo ano, a Embrapa planeja lançar um programa para ajudar o produtor a implementar o consórcio abelha/café arábica. O APOIA – Polinização deve trazer informações sobre o manejo dos insetos, revitalização das áreas naturais, uso dos insumos agrícolas para controle de praga e produção e comercialização.
UM EXÉRCITO DE 200 MIL ABELHAS
As abelhas do experimento foram fornecidas pela Agrobee, que promove a integração entre produtores rurais e criadores. Esse tipo de processo de fecundação das flores conta com um verdadeiro exército de abelhas atuando nas plantas no período em que a florada é mais expressiva. No caso do estudo, foram 200 mil abelhas africanizadas por hectare. “A polinização assistida é o maior potencial produtivo sustentável a ser desbloqueado no agronegócio brasileiro. Podemos aumentar significativamente a produção dessas grandes cadeias agrícolas, em que o Brasil é primeiro lugar, com manejo sustentável”, diz o CEO da Agrobee, Guilherme Sousa.
A pesquisa nos cafezais também foi feita em parceria com a Syngenta para avaliar o manejo de um defensivo à base de tiametoxam. Menezes comenta que não houve impacto nas abelhas e reforça que o produto precisa seguir as orientações do fabricante para ter funcionalidade e não afetar as polinizadoras. (Fonte: Agro Estadão)
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